domingo, 19 de setembro de 2010

Língua Latina: um pouco de sua história

La
Latim Arcaico 
Teve sua relação de origem na Fíbula Prenestina 1871 a.C. - inscrição em uma fivela de ouro, encontrada em Preneste (hoje em dia Palestrina), por isso o nome “fíbula prenestina”. A mais antiga inscrição latina, data de aproximadamente 600 a.C., e é, na verdade, um latim dialetal, o prenestino: “MANIOS MED FHEFHAKED NVMASIOI” = “Manius me fecit Numerio” “Manios me fez para Numério”. Este é um registro do latim arcaico.


Sermo Urbanus / Latim Clássico ou Literário 
“Latim clássico” é a norma literária, altamente estilizada, que compreende o período que vai de 81 a. C. a 14 d.C. Seus principais representantes são Cícero, César e Salústio, na prosa e, no verso, Virgílio, Horácio, Ovídio, Lucrécio e Catulo. É uma estilização do sermo urbanus ou usualis, língua coloquial das classes cultas, com o qual convivia.


Um pouco mais sobre o Latim Clássico:
  •   Uma língua sintética, isto é, possui terminações próprias (desinências), que, no fim da palavra, indicam a função sintática. Essas palavras que possuem flexão são os nomes (substantivos, adjetivos e pronomes) e os verbos. Em latim, a frase Intelligenti pauca (Spalding, [s./d.]) traduz-se em português por ‘Ao que sabe compreender, pouca coisa basta’.
  • Amplo flexionismo nominal e verbal
  • Falta de determinantes como: artigos
  • Pouco uso dos pronomes possessivos 

  • Moderado uso das palavras que fazem relação – preposições (elementos de ligação entre termos oracionais - Complementos verbais: Obedeço “aos meus pais”. Complementos nominais: continuo obediente “aos meus pais”.  Locuções adjetivas: É uma pessoa “de caráter”.  Locuções adverbiais: Naquele momento agi “com cuidado”. Orações reduzidas: “Ao chegar”, foi abordado por dois ladrões.)
  • Com liberdade de alocação de palavras na frase, é predominante a ordem inversa
  • Palavras relacionadas pela concordância gramatical e pela regência 

 
 
 
Casos do Latim Clássico

Nominativo - sujeito ou predicativo do sujeito
Observe a oração que segue: Paulus te amat (Paulo te ama). Paulus foi o agente, quem exerceu a atividade de amar, sobre alguém (no caso, a pessoa a quem se fala, ou o próprio interlocutor).


Genitivo - adjunto adnominal (restrintivo)
Observe: Nunc in Italia sum, sed cras ad patrem ibo (agora estou na Itália, mas amanhã vou à casa de meu pai). O substantivo Italia está no ablativo, precedido da preposição in (“em”, que poderia não ter sido usada), expressando localização.


Acusativo - objeto direto
Por exemplo: na mesma oração dada acima (Paulus te amat), Paulus foi o autor da ação de amar, enquanto a coisa sobre quem a ação foi exercida, que aqui sabemos foi o próprio interlocutor, é o objeto direto do verbo amo, amare. Continuando, se tivéssemos dito Reginam laudamus (louvamos a rainha), o agente seria nos (“nós”, que ficou omitido sem prejuízo do entendimento por conta da conjugação própria, como ocorre em português), a ação de louvar estaria expressa pelo próprio verbo e o objeto que sofreu a ação de louvar foi a rainha, que por isso ficou declinada no acusativo.
  
Dativo - objeto indireto, complemento nominal
Sabendo que o verbo latino do, dare (dar) rege o dativo e o acusativo, podemos construir a seguinte sentença: Reginæ regique pecuniam demus (Daremos o dinheiro à rainha e ao rei). Dela, muito há o que inferir: O agente novamente é nos, que está omitido mas explicitado pela conjugação de do, dare; pecunia é o que será dado, a coisa objeto da ação de dar, aquilo que será dado, por isso está no nominativo; os substantivos regina e rex estão ambos no dativo, pois são a coisa a quem o objeto será dado.


Ablativo - adjunto adverbial
Outros casos de ablativo são: acompanhamento, separação, tempo, lugar, modo, instrumento. Na prática, é preciso identificar que caso a preposição ou verbo rege, o que será oferecido por bons dicionários e gramáticas.

Vocativo - Vocativo
O caso vocativo é grandemente vestigial e só se faz presente em certo número de nomes. Um exemplo de substantivo que se altera nesse caso é amicus, amici (amigo), da segunda declinação, que no vocativo recebe a terminação -e: Salve, amice! (Olá, amigo!) Para os substantivos que não se alteram no vocativo, basta usá-los “no nominativo” quando ele tiver função de vocativo: Quomodo vales, amica? (Como vais, amiga?)


Declinação = organização de vocábulos a partir da vogal temática.

No latim clássico são cinco: 1° declinação – vogal temática –a
Ex: aperta (aberta), Alba (branca), amica (amiga), cena (jantar), auia (avó), arca (caixa)

                                              2° declinação -  vogal temática –o
Ex.: seruo (servo), discípulo (aluno), Lupo (lobo), pulcher (bonito), magister (professor)

                                             3° declinação – vogal temática –i
Ex.: Lex (lei), uox (Vox), uestis (roupa), pons (ponte), mater (mãe), arbor (árvore)

                                            4° declinação – vogal temática –u
Ex.: manu (mão), exercitu (exercito), domu (casa), metu( medo), obitu (morte)

                                            5° declinação – vogal temática –e
Ex.: re(coisa), die (dia), serie (série), facie (face), glacie (gelo)




Sermo Uulgaris / Latim Vulgar 

Falado pela classe social menos favorecida e pela classe média no fim do Império Romano (queda do Império Romano 476 a.C.)
Desdobramentos do Latim Vulgar: português
                                                         Italiano
                                                         Espanhol
                                                         Catalão
                                                         Provençal (quem vem sendo substituído pelo Francês)
                                                        Romeno     
                                                        Rético ou ladino
                                                        Sardo
                                                        Dálmata (já desaparecido)


Primeiras Concepções do Latim Vulgar – Assim como o podemos referenciar o latim arcaico a partir da fíbula prenestina, do latim vulgar temos referências a partir de inscrições como: graffiti (escritos de carvão nas paredes de Pompéia), nas comédias de Plauto, Satyricon de Petrônio, na narrativa de Peregrinatio Aetheriae (ou Egeriae) ad loca sancta, viagem de Egéria pelas terras santas, do Apendix Probi e de depoimentos de gramáticos romanos.



Características do Latim Vulgar

  • Construções analíticas 
  •  O uso da preposição que eliminou a flexão casual denominada genitivo, onde o “de” passou a significar posse (Genitivo: Petri – em oposição a De Pedro
  •  Substituição das formas verbais simples por locuções: amabo por amare habeo > amar hei > amare (presente do indicativo em português).
  •  O pronome demonstrativo passou a funcionar como artigo: illu(m) > lo > o, illa(m) > La > a, illos > los > os, illas > las >as.
  •  Diminutivo perdeu sua significação como grau, por serem proparoxítonas sofreram deslocamento do acento o que resultou na queda do fonema: ovic(u)la por ovis – ovelha, apic(u)la por apis – abelha  
 
 
Fonologia:

  • Redução dos ditongos e dos hiatos em uma única vogal: aurum > orum (ouro), Praeda > preda (despojos da guerra).
  • Na evolução para o português, o au se tornou ou, em seguida ocorreu sua reintrodução: causa e coisa (cousa em Portugal).
  • Queda de consoante intervocálica que se torna um ditongo au: Malu> mau.
  • Perda de evidência de certos sons finais: est > es, amaverunt>amaverun
  • por ser discreta a pronúncia o “t”, este desapareceu, assim também aconteceu com outras expressões como: post > pos, debere> dever, mare> mar
  • O Acusativo singular clássico, que era assinalado pela nasal, desapareceu e com ela outras palavras também deixaram de ser anasaladas: decem>dece, ansa>asa, mensa>mesa. 
  • Tendência para paroxítona: apicula>apicla>abelha, dominus (dóminus)>domnus, calidus (cálidus)> caldus, cathedra (cáthedra) > cathédra, integrum (integrum) intégrum.
  • Perda de aspirada – homo>Omo; habere>abere
  • Assimilação – persicum>pessicum; ipse>isse
  •    Prótese do fonema i antes do grupo consonantal ST, SP e SC, mas a grafia em e: stare>istare>estar, spiritus>ispiritus> espírito, Stella>istrela>estrela, scalata>iscada>escada.







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